o Deus que te vê

Há uma história na bíblia, sobre uma escrava, o nome dela era Agar. Narra o relato bíblico que Agar era escrava de Sara, esposa de Abraão. Esse casal foi um casal muito importante, pois Deus falou com eles para que saíssem da terra deles, e fossem para um lugar especial que Deus mesmo mostraria para eles, e através deles, Deus faria uma nação muito grande. Mas, aconteceu que o casal era estéril, e não podiam ter filhos. Sara, como muitos de nós, ficou incomodada com essa situação e resolveu dar uma ajudinha pra Deus, e mandou que sua escrava Agar tivesse relações sexuais com seu próprio marido, com o intuito de gerar um filho e assim cumprir a promessa de Deus. Abraão aceitou a proposta e teve relações com Agar. Agar engravidou e teve um menino, o qual foi chamado de Ismael.

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Esta história peculiar me chama muito a atenção, porque Agar era uma mulher, numa sociedade extremamente patriarcal e machista, e não bastava ser uma mulher, era uma escrava. Os escravos não tem direitos sobre nem mesmo os seus corpos. Agora imagine você que alguém que te ordene para ter relações sexuais com seu dono? É uma situação muito ruim, vergonhosa e humilhante. Você não ter o direito de falar não. Era assim a vida de Agar. Não sendo bastante toda essa situação degradante, quando grávida, Sara, sua dona, passou a humilhar e desprezar. Como se a vida dela já não fosse ruim o suficiente, ainda ganhou de brinde mais humilhações e desprezo, por ter feito o que lhe haviam mandado. 

Agar então resolveu fugir da casa de Abraão e Sara, foi para o deserto com seu filho pequeno. Ali no deserto, a criança pediu que a mãe lhe desse água, mas não tinha, afinal de contas, era um deserto, Agar estava sozinha, cansada e muito desesperada. E ali naquele lugar terrível, Deus falou com ela. Mostrou pra ela a água e então ela soube que Deus é o Deus que a via. E foi isso que ela disse: "Tu és o Deus que me vê" (Gênesis 13.16A).

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Muitas vezes somos condicionados a acreditar que Deus vê, e fala apenas com os certinhos, com os moralistas, com os religiosos que amam regras, mas a história de Agar nos mostra uma face amorosa de Deus, que vê aqueles que a religião rejeita, ela era mulher e escrava, não tinha voz, nem direitos, nem vontades respeitados. Ninguém a via, ouvia ou se importava. Agar estava totalmente à margem da sociedade de sua época, uma mãe solteira, um filho não fruto de um relacionamento amoroso, mas de uma submissão à vontade dos donos. A história de Agar revela que Deus se importa com essas pessoas que ninguém mais importa, que se encontram à margem da sociedade por diversas razões, que não se enquadram nos padrões aceitáveis moralmente ou socialmente, muito menos religiosamente. Agar é testemunho da graça e do amor de Deus, que acolhe, que ama, que nos percebe na nossa miséria e solidão. Esse é o Deus bíblico. O Deus do amor.

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A história de Agar nos lembra que independentemente do deserto ao qual somos submetidos na nossa vida cotidiana, podemos clamar a Deus, que Ele nos ouve, que Ele vem ao nosso encontro com socorro bem presente na angústia. Deus não está preso dentro das paredes de uma igreja ou religião, Deus é o Senhor de todas as coisas e preenche cada espaço vazio do nosso ser com sua presença. Ele pode todas as coisas, Ele nos salva e nos dá uma vida nova. Deus é o Deus do renovo, é o Deus que nos dá de beber da água viva, que alimenta nossa alma. Deus é o Deus do amor, do perdão, do renovo. Ele é o Deus de Agar e de Ismael, não apenas de Abraão e Sara, mas também o Deus de Agar, da escrava, da mulher, da fugitiva.

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Que Deus te fortaleça e te dê descanso, seja o que for que estiver enfrentando, lembre-se: Ele é o Deus que te vê, que conhece e que te percebe. Ele é o Deus do amor abundante.

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abraços literários,

Denise Dias.

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