Eu havia lido um livro da Jojo Moyes: "Baía da Esperança" no ano passado, e a partir disso quis conhecer outros livros dela. "Um caminho para a liberdade" foi lançado no Brasil em 2019, e me lembro de ter o visto numa livraria e ficado bem interessada, mas apenas agora que o li, e ele se firmou como um dos livros mais interessantes de romance que já li até então.
Ele conta a história de 5 mulheres que se voluntariam (apesar de receber um salário) para trabalhar na biblioteca da cidade, uma cidade pequena do interior dos EUA, no período de 1937, pós crise econômica de 1929.
Uma dessas mulheres, com a qual me identifiquei muito, se chama Alice, ela é inglesa, e em decorrência de um casamento se muda para essa pequena cidade no interior do Kentucky. (Eu também me mudei para uma cidade no interior do meu estado e achei várias semelhanças com a cidade de Alice.) A cidade é hostil, as pessoas são focadas na vida das outras, a igreja parece mais um clube social do que uma igreja de fato e as mulheres que Alice conheceu eram alienadas e desinteressantes. Alice então se sente muito perdida naquele espaço, e por conta disso se dispõe a trabalhar na biblioteca. Na biblioteca, as mulheres são as responsáveis por levar os livros até as pessoas que moram nas montanhas. Conforme Alice vai se envolvendo no trabalho com os livros, passa a notar o quanto seu casamento é disfuncional, o marido não a toca, e o sogro acha que pode lhe dizer o que fazer, chegando ao ponto máximo de a agredir fisicamente. Alice sai de casa, para a casa da única amiga que tinha na cidade, a bibliotecária Margery, que também sofria preconceito das pessoas da cidade, por ser uma mulher independente, que não se casou, e tinha uma vida autônoma, sem se preocupar com as opiniões alheias. Acontece que, o sogro de Alice, um homem arrogante, machista e corrupto, não deixa passar essa "vergonha" do filho ter sido abandonado pela esposa, e faz da vida de Alice e Margery um inferno. Margery que engravida do seu companheiro, vai parar até na cadeia por conta do sogro de Alice, que é dono de uma mineradora e causa desastres ambientais na comunidade, mas geralmente é inocentado por causa da sua influência política, econômica e religiosa, pois o pastor da cidade o protege, bem como o delegado, e o governador do estado.
Uma outra bibliotecária a Sophia, é negra e por isso sofre preconceito e vive com medo de sofrer ataques, a igreja da cidade se posiciona contra Sophia, segundo o pastor uma mulher negra não deveria trabalhar numa biblioteca para brancos.
Izzy é outra bibliotecária, que apesar de ser da classe média, ter influência positiva na igreja, é deficiente física e sofre algumas limitações na sua trajetória e precisa lutar para ter seu espaço.
E Beth, a bibliotecária mais comum, que não sofre "nada demais" dessa sociedade, porque está "nos padrões aceitáveis", o único preconceito que sofre é por ser mulher e bibliotecária.
No meio disso tudo, tem o romance contra regras de Margery e Sven acontecendo. Um romance "proibido" entre Alice e Fred. A viuvez recente de uma esposa amorosa, que sofre a perda do esposo e o desafio de criar filhos nessa sociedade... A descoberta de possibilidades para a vida de Izzy que viu nos livros e nas amigas, uma chance de não ser uma deficiente física, mas ser quem quisesse ser.
Enfim,
O livro é ótimo, mostra como os livros, o conhecimento podem melhorar muito a qualidade de vida de uma pessoa, porque transformam a realidade. Na vida de uma comunidade o conhecimento faz mudanças acontecerem. As pessoas se empoderam e rompem os grilhões da ignorância, obediência irrefletida e religiosidade infrutífera.
O livro trata de:
* problemas relacionados à violência doméstica
*exploração ambiental irresponsável
* corrupção
* inclusão social
* amizade
* machismo
* preconceito com o diferente
* e sobretudo, amor.
Esse livro é uma lição de amor, primeiro por si mesmo, porque Alice só conseguiu sair do ciclo de violência que estava inserida quando se reconheceu como alguém digna de ser amada. Amor pelo outro, tal qual o amor de Sven por Margery. Amor pelos amigos, pois as bibliotecárias aprenderam o valor da amizade, da união para vencerem o preconceito e os ataques. E sobretudo, a lição maior do livro, é o amor pelos livros, pelo conhecimento, pela LIBERDADE.
Indico com certeza esse livro. Dá para visualizar bem a sociedade da época, que infelizmente acho que é muito parecida com a nossa sociedade brasileira atual (pelo menos de onde vivo). E também dá para ter um pouco de esperança, pois o livro ensina que mesmo diante do caos, sempre haverá uma luz para aqueles que buscam o amor, o conhecimento e a liberdade.
Abraços literários,
Denise.
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