Magda Borges é mestre em Psicologia, trabalhadora da rede municipal de educação e professora na área de humanas na rede privada de ensino superior, feminista classista do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro. Foi candidata ao Senado pelo Estado de Goiás nas eleições de 2018. Mãe de uma adolescente de 15 anos. A segunda pessoa da família a ingressar numa faculdade e a primeira da mulher a ter acesso ao ensino superior.
1) Do
que se trata sua pesquisa?
Sexualidade, Psicologia e Educação
Sexual.
2) Como
é a rotina do mestrado/doutorado pra você?
Foi uma rotina bem sofrida. Estava
com um subemprego e sem bolsa de apoio à pesquisa por 14 meses. Tinha
dificuldades pra comer, locomover e investir em material de estudos. Estudava
em torno de 7h diárias,
mas tinha dificuldades de concentração ante os problemas concretos da própria
existência.
3) Além
de assistir aulas, o que você faz?
Eu fazia alguns bicos pra conseguir grana,
dava 2 aulas numa faculdade com um contrato precarizado e com um valor de hora/aula
a R$12,00. Buscava minha filha na escola, além de ser
responsável por toda a situação escolar dela: auxílio de reforço, tarefas,
providência de materiais, idas ao médico. Some-se à isso todas as tarefas
domésticas: limpar, passar, lavar, arrumar, organizar, fazer compras, cozinhar.
Além disso, assumi uma tarefa militante no meio do processo, me colocando em um
disputa eleitoral para o cargo de senadora por Goiás em 2018.
4) O
que significa ter uma bolsa pra você?
Ter uma bolsa de R$1.350,00 (valor que
não tem alteração há pelo menos 6 anos) é
sinônimo de poder comer, poder se locomover, providenciar material de estudo,
participar de eventos acadêmicos e de exposição e divulgação da sua pesquisa,
sobretudo, conhecer e agregar grupos de pesquisas em outras localidades criando
uma rede de interação e comunicação científica. A bolsa é condição de
existência tanto enquanto pessoa, como da pesquisa.
5) Para
ou por que que você escolheu fazer mestrado/doutorado?
Eu queria aprofundar
meus conhecimentos sobre a discussão sobre a sexualidade na escola. Sou da licenciatura, nesse sentido, mestrado
significa possibilidades de melhorar a atuação profissional, contribuir com a
discussão sobre o tema de interesse, além da possibilidade de melhora na
própria condição de vida com acesso à trabalhos com melhores
remunerações.
6) Existe
muita pressão?
Pressão??? Rsrsrs… pensa ter que dar conta de todas as
disciplinas e suas tarefas, as atividades, a produção, a participação nos
eventos, os prazos, as alterações próprias do projeto de pesquisa e ainda
concilar com as responsabilidades tipicamente femininas, determinadas
culturalmente? Agora pega tudo isso e joga numa realidade sem bolsa ou com uma
bolsa R$1.350,00 (valor bolsa mestrado/Fapeg). Além disso, pensa na mulher que
cumpre todas essas jornadas e ainda precisa dar conta da função de mãe?
7) O
que mais te chateia no mestrado/doutorado?
Além de toda a realidade própria da
maioria dos pesquisadores (de precariedade e hiposuficiência
financeira), na maior parte das vezes, a falta de empatia do grupo de docentes
e do próprio(a) orientador(a). Ouvi muito de meus colegas a ausência de
compreensão, pouca reivindicação para melhoras, auxílios acadêmicos na vida de
dos estudantes, enquanto pesquisadores.
8) Em
que sua pesquisa é útil para a sociedade?
Minha pesquisa suscita
problematizações sobe a educação sexual nas escolas, da
disputa política e ideológica sobre o tema, problematiza como conservadores vêm
minando o avanço dessa discussão no âmbito escolar, culminando, inclusive, na
proibição do debate no âmbito público e de como a Psicologia tem atuado no
processo dessa regulação. Nesse sentido, tais problematizações podem suscitar
na juventude a consciência quanto a necessidade de fazer esse debate para uma
sexualidade saudável, consciente e responsável.
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