Ciências morais- Martín Kohan


Este é o 15º livro que leio em 2020. É um livro escrito por um autor argentino. Não sei se por conta dos tempos que temos vivido de pandemia, de instabilidade política no Brasil, mas esse livro me fez refletir sobre o que é um sistema autoritário.

Sobre o livro:
é um trabalho muito bem escrito, o autor orquestra as palavras de uma maneira belíssima. A escrita é impecável, ele consegue narrar um fato a toa (como ir ao banheiro urinar) de forma única, os detalhes das cenas, o pensamento dos personagens, a maneira como descreve o ambiente externo, é excelente, não à toa esse livro foi o ganhador do prêmio Herralde de literatura espanhola em 2007, caracterizando um dos mais importantes romances da América do Sul.

Sobre a história do livro em si:
é a história de Maria Teresa, uma menina de 20 anos que trabalha no colégio nacional da Argentina, em Buenos Aires em 1982, nos anos finais da ditadura argentina. Maria Teresa não sabe nada sobre o que está acontecendo no seu país, não tem a compreensão dos fatos. Ela apenas segue sua rotina, como um animal que precisa apenas comer, dormir e trabalhar, ela não reflete sobre nada. No seu trabalho de inspetora, o que precisa fazer é manter a ordem, o que significa observar os alunos e implicar com eles por qualquer mínimo ato que seja manter a ordem, o que pode variar desde a não usar meias azuis de náilon, até mesmo, prender o cabelo mais alto na cabeça. Maria Teresa tem um chefe, o chefe dos inspetores, senhor Biasutto, que é um homem que ela admira. Faz de tudo para o agradar e chamar atenção. Até que um dia ele a violenta no banheiro masculino. Maria Teresa não reage, não questiona, não se esquiva. Ela só obedece, mesmo que isso a martirize. E ele repete a violência.  O irmão dela foi chamado para servir ao exército, o que gerou uma depressão na mãe. Maria Teresa não tem com quem falar. É uma menina solitária, inocente e obediente demais. 

Minhas impressões:
Sinceramente, eu fiquei com raiva de Maria Teresa durante o livro todo. Ela é o tipo de pessoa insonsa que eu não tenho paciência alguma. Minha vontade era dar uns safanões nela, pra ver se acorda pra vida. Mas, é preciso entender o contexto do livro, o autor retrata em Maria Teresa a posição da Argentina, de um país entregue e submisso a um regime ditador, que obedece por obedecer, que conhece as contradições da "ordem" mas não se levanta contra. O inspetor Biasutto é a representação da hipocrisia, um governante que defende um regime autoritário, que busca a ordem, a disciplina e a obediência, mas que comete atrocidades contra o povo, usando de sua suposta posição de superioridade. Os alunos do colégio, representam as vítimas desse sistema nocivo e perturbador. 
O livro tem uma atmosfera pesada, densa, que parece dar voltas e voltas para não chegar a lugar algum, justamente para mostrar o quão paranoico é um sistema autoritário, que enxerga "inimigos" em tudo quanto é lugar, que elege um objetivo para combater, e adoece populações inteiras.
A mensagem do livro é muito bem passada. A reflexão é provocada, ainda mais nesse momento de tanta indagação que passamos aqui no Brasil.
Eu percebi que não sei nada sobre a Argentina, que preciso estudar mais sobre a história desse país tão próximo e tão distante ao mesmo tempo. 
É essa minha reflexão e impressão desse livro.

Abraços literários,
Denise.


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