Dezembro, finais e começos felizes

Ao som de :  Não chora (Móveis coloniais de Acaju)
[é só clicar no nome para ouvir, se quiser ;)]

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Por mais que ela saiba que tomou a decisão  correta, a tristeza não deixa de lhe importunar. Olhe para ela, encostada na janela encarando  o nada, como quem vê o tudo ali. O braço apoiado no encosto e a mão levada à boca. Ela sente o vento na pele, como a liberdade na alma que lhe enche agora, numa confusão benéfica de sentimentos.
Morde o lábio inferior e se vira de vez para a janela, ignorando completamente o falatório atrás dela. Ela não quer saber o motivo das risadas das pessoas que estão ali, na verdade, se pergunta por que está ali. Poderia ter dito que não estava afim de sair hoje, ou que sua saúde não estava legal, mas não quis ser desonesta, porque acredita que não vale a pena.
Seus olhos se moviam em harmonia com os pensamentos que lhe invadiam, já fazia tempo que alguém não a convidava para um encontro. Não, na verdade, já recebeu alguns convites desde aquilo, contudo, preferia se esquivar, porque, ainda não estava confortável para essas coisas. É mais seguro evitar, não queria se envolver com outra pessoa agressiva, possessiva e tão destruidora como foi o seu último relacionamento. Quando essa lembrança lhe veio, seu rosto endureceu num instante e sua respiração ficou ofegante. Seus olhos se fecharam e ela mordeu com mais força o lábio inferior lhe causando uma dor que era mais profunda do que a física, tão íntima que lhe trouxe lágrimas. O que ela estava fazendo? Não deveria ter vindo! Enche as bochechas com ar em uma tentativa de reprimir a dor que sentia ao se lembrar do que viveu com ele, não por saudade, mas vergonha do que sofreu e porque permitiu que ele a fizesse passar por tudo aquilo. Seus braços agora envolviam seu corpo em uma tentativa vã de se abraçar e acalentar seu próprio coração de suas lembranças cortantes.
No momento em que o vento soprou a cortina com mais força, percebeu que tinha tanta gente ali, e que nem se davam conta do que estava acontecendo, na verdade, nem se davam conta de que ela estava ali, sendo moída por suas recordações infelizes. Esfregou o rosto e respirou fundo, aquilo tem que acabar. Tem que morrer, ser esquecido, já acabou , não é mesmo? Respire, respire! Repetia para ela mesma. Fechou os olhos e se lembrou do seu convite para sair, sim, ela tinha um encontro!Automaticamente o sorriso contornou seu rosto, as lágrimas pararam de nascer nos olhos,  e a respiração tornou-se mais leve. Ela não quer criar expectativas, não pode!  Mas ele, ah, respirou fundo, ele a chamou para sair, é justo que se permita pelo menos ficar feliz. Já faz tempo que não se interessava por alguém assim, ele é especial,  por isso gostou dele, só não podia imaginar que ele também tinha gostado dela.
Olha para trás, observa as pessoas comendo, conversando, rindo. É, a vida lhe deu uma nova chance. Respira fundo, enchendo o corpo de ar lentamente, fecha os olhos e sorri. Realmente, Deus é bom, ela está livre. L i v r e das cobranças, chantagens, agressões. O final não foi feliz, mas ela acredita que esse novo começo, independentemente do seu encontro ( e quando pensou nisso, teve que morder os lábios a fim de segurar um sorriso mais escancarado) está sendo, e será ainda mais feliz.
É hora de voltar para a sala e participar das conversas. Mas antes, sussurra para si mesma, olhando para o céu: _ obrigada por me dar um começo feliz, o b r i g a d a.
_ Ei, Isabel! É dezembro, venha ficar com sua família um pouco.

É sua avó chamando, ela se vira. As mãos livres balançam junto ao corpo esguio que se move rumo à sala, com um sorriso de quem está verdadeiramente em p a z.

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