Ao som de : Não chora (Móveis coloniais de Acaju)
[é só clicar no nome para ouvir, se quiser ;)]
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[é só clicar no nome para ouvir, se quiser ;)]
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Por mais que ela saiba que tomou a decisão correta, a tristeza não deixa de lhe
importunar. Olhe para ela, encostada na janela encarando o nada, como quem vê o tudo ali. O braço
apoiado no encosto e a mão levada à boca. Ela sente o vento na pele, como a
liberdade na alma que lhe enche agora, numa confusão benéfica de sentimentos.
Morde o lábio inferior e se vira de vez para a janela,
ignorando completamente o falatório atrás dela. Ela não quer saber o motivo das
risadas das pessoas que estão ali, na verdade, se pergunta por que está ali.
Poderia ter dito que não estava afim de sair hoje, ou que sua saúde não estava
legal, mas não quis ser desonesta, porque acredita que não vale a pena.
Seus olhos se moviam em harmonia com os pensamentos que lhe
invadiam, já fazia tempo que alguém não a convidava para um encontro. Não, na
verdade, já recebeu alguns convites desde aquilo, contudo, preferia se
esquivar, porque, ainda não estava confortável para essas coisas. É mais seguro
evitar, não queria se envolver com outra pessoa agressiva, possessiva e tão
destruidora como foi o seu último relacionamento. Quando essa lembrança lhe
veio, seu rosto endureceu num instante e sua respiração ficou ofegante. Seus
olhos se fecharam e ela mordeu com mais força o lábio inferior lhe causando uma
dor que era mais profunda do que a física, tão íntima que lhe trouxe lágrimas.
O que ela estava fazendo? Não deveria ter vindo! Enche as bochechas com ar em
uma tentativa de reprimir a dor que sentia ao se lembrar do que viveu com ele,
não por saudade, mas vergonha do que sofreu e porque permitiu que ele a fizesse
passar por tudo aquilo. Seus braços agora envolviam seu corpo em uma tentativa
vã de se abraçar e acalentar seu próprio coração de suas lembranças cortantes.
No momento em que o vento soprou a cortina com mais força,
percebeu que tinha tanta gente ali, e que nem se davam conta do que estava
acontecendo, na verdade, nem se davam conta de que ela estava ali, sendo moída
por suas recordações infelizes. Esfregou o rosto e respirou fundo, aquilo tem
que acabar. Tem que morrer, ser esquecido, já acabou , não é mesmo? Respire,
respire! Repetia para ela mesma. Fechou os olhos e se lembrou do seu convite
para sair, sim, ela tinha um encontro!Automaticamente o sorriso contornou seu
rosto, as lágrimas pararam de nascer nos olhos, e a respiração tornou-se mais leve. Ela não quer
criar expectativas, não pode! Mas ele,
ah, respirou fundo, ele a chamou para sair, é justo que se permita pelo menos
ficar feliz. Já faz tempo que não se interessava por alguém assim, ele é
especial, por isso gostou dele, só não
podia imaginar que ele também tinha gostado dela.
Olha para trás, observa as pessoas comendo, conversando,
rindo. É, a vida lhe deu uma nova chance. Respira fundo, enchendo o corpo de ar
lentamente, fecha os olhos e sorri. Realmente, Deus é bom, ela está livre. L i
v r e das cobranças, chantagens, agressões. O final não foi feliz, mas ela
acredita que esse novo começo, independentemente do seu encontro ( e quando
pensou nisso, teve que morder os lábios a fim de segurar um sorriso mais
escancarado) está sendo, e será ainda mais feliz.
É hora de voltar para a sala e participar das conversas. Mas
antes, sussurra para si mesma, olhando para o céu: _ obrigada por me dar um
começo feliz, o b r i g a d a.
_ Ei, Isabel! É dezembro, venha ficar com sua família um
pouco.
É sua avó chamando, ela se vira. As mãos livres balançam
junto ao corpo esguio que se move rumo à sala, com um sorriso de quem está
verdadeiramente em p a z.
Lindo... Adorei!
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