Porque nasceste obscuras raízes se espalharam
traçando esses caminhos.
Agora vais em frente.
Ainda que desejes parar debaixo de uma árvore,
comer de um fruto que não seja teu, deitar à sombra
que não cai do céu para todos, ou desviar-te
por outros caminhos que sonhaste e só por isso
julgas teus, irrevogáveis e mecânicos são os passos
que te vão levando, inerme, sobre a corda bamba
até a outra margem – de onde voltar não podes.
Voltar atrás não podes, é tarde, é sempre tarde,
que a cada momento a corda arrebenta atrás de ti
e arma-se de novo a tua frente para que de novo
a pises, vás em frente, chegues lá. Mas a que eira
ou beira? A que destino? Mãos invisíveis traçam
o destino; e os fios com que o trançam, tramam,
são igualmente invisíveis. E vais. Por onde vais,
sejam ou não os caminhos que sonhas teus e pisas,
em toda a água sobre que te debruces, vês, encontras
a imagem de que foges e é a imagem que buscas.
Afonso Félix de Souza
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